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A Epigenética: o DNA não responde todas as perguntas

“Dois irmãos gêmeos idênticos, Bruno e André. L univitelinos, nascem em uma determinada família. Logo nos primeiros anos de vida, Bruno desenvolve uma anomalia genética muito forte, atribuída a um cromossoma especifico que desencadeou problemas em sua formação. Essa anomalia é responsável por agredir o sistema locomotor de seu organismo e impossibilitar gradativamente o movimento das pernas. Aos quatro anos de idade, Bruno passa a sentir dormências em sua perna. Aos cinco anos, começa a perder a sensibilidade dos membros inferiores. Por fim, aos seis anos, Bruno não consegue mais se locomover.

Enquanto isso, André continua sem apresentar nenhuma modificação em suas pernas. Não há diminuição da sensibilidade, não há dormências, não há nenhum sinal da doença. André continua a caminhar e a viver uma vida normal. Passam-se dez, vinte, trinta, quarenta anos e, apenas aos sessenta anos de idade, André começa a sentir um incomodo nos membros inferiores, porem algo muito leve, uma pequena dormência que aparece de tempos em tempos. Mesmo assim, esse caso clinico fica estacionado até a sua morte, sem ter afetado seu processo de locomoção.

Ao analisar essa caso clinico, a pergunta inevitável é: como dois seres humanos biologicamente iguais, com o mesmo genoma, com as mesmas formações genéticas e com uma mesma anomalia encontrada em um determinado cromossomo, conseguem desenvolver a doença em épocas e estados completamente diferentes? Como é possível Bruno desenvolver a doença de uma maneira tão forte logo nos primeiros anos de vida e André apenas desenvolvê-la, de maneira fraca, nos últimos anos de sua vida? Se os dois apresentam os mesmos genes, estes não deveriam funcionar da mesma maneira?

O sequenciamento genômico de diversas espécies, ao longo dos anos, foi de fundamental importância para a expansão do conhecimento acerca de vários processos biológicos. Na tentativa de compreender a complexidade da vida biológica, cientistas passaram a analisar individualmente as mais variadas cadeias do código genético humano.

Cada particularidade do DNA foi estudado exaustivamente para explicar doenças, transcrições de características de uma geração para outra, anomalias desenvolvidas e tantas outras questões importantes ligadas ao desenvolvimento da vida.

No entanto, após a publicação em 2011 do genoma humano, muitas perguntas continuaram sem resposta. Questionamentos que o genoma, até então responsável por todas as explicações, não conseguia explicar. Por que gêmeos univitelinos não desenvolveram anomalia genética da mesma forma? A resposta para esse mistério existe, mas ela não é tão simples e direta quanto se esperava, quebrando um paradigma adotado durante muitas décadas pela ciência, desde os primórdios da pesquisa do genoma: somos muito mais que nossos genes e os nossos genes não são responsáveis pela explicação de todas as respostas acerca do funcionamento do organismo humano.

Sob a tentativa de compreender essas lacunas deixadas pela genética, há mais de cem anos cientistas passaram a pesquisar sobre a Epigenética, uma nova disciplina cujo nome foi originado do prefixo grego “Epi” que significa acima ou sobra algo”. A Epigenética é uma ciência que estuda as modificações reversíveis e herdáveis no genoma, mas que não alteram a sequência de nucleotídeos da molécula de DNA. Ou seja, mesmo sem a modificação do genoma, esses padrões epigenéticos através de modificações ambientais podem causar mudanças fenotípicas nos indivíduos, e essas mudanças poderão ser transmitidas para seus descendentes. A pergunta não seria mais “porque que Bruno e André não desenvolveram da mesma forma a anomalia, já que seus genomas eram idênticos? E sim “será que o modo como Bruno e André usaram seu corpo e sua mente pode ter influenciado o desenvolvimento da anomalia”.

O sequenciamento do DNA é fundamental para o entendimento de diversos termos, como os genes relacionados à vida, conceitos como cromossomos e códons, e seu estudo é de suma importância para a ciência. No entanto, há informações adicionais ao genoma humano que estão além da genética convencional, informações contidas no chamado epigenoma. A ciência da epigenética surge com o papel de investigar as informações contidas no DNA transmitidas na divisão celular, mas que não fazem parte do sequenciamento tradicional do DNA.

Por trás desse conceito, que nos últimos de anos tem ganhado cada vez mais repercussão no campo cientifico, pode estar a descoberta da real influência do ambiente e da rotina na carga genética que formamos e passamos para nossos descendentes.

Assim como demonstrei no capítulo anterior, acerca dos campos morfogenéticos, os pesquisadores cada vez mais entendem que há muito mais informações que envolvem a vida dos seres em nosso planeta sem ter ligação com o DNA.

É importante ressaltar que as marcas epigenéticas não podem ser confundidas com mutações. As mutações são mudanças no sequenciamento das letras do DNA, no gene propriamente dito, e podem ser desencadeadas tanto por um fator externo, como a exposição a um material radioativo, quanto por uma circunstância acidental no processo de duplicação do genoma, quando o nucleotídeo desaparece ou é trocado por outro, por exemplo. Ou seja, a epigenética desencadeia não uma mudança nas letras do DNA, mas, sim, nos fatores que podem modificar a maneira como esse gene se expressa no organismo.

O biólogo e pesquisador norte-americano, Dr Bruce Lipton, foi um dos pioneiros na defesa de que os genes e o DNA podem ser modificados de acordo com o comportamento e as crenças das pessoas, afirmações emblemáticas que se chocaram com o tradicional estudo da genética. Em seu livro “The Biology of belief” (A Biologia da crença), Lipton examinou detalhadamente os processos nos quais as células recebem informação no organismo e, a partir desses estudos, formulou uma serie de constatações que revolucionaram a biologia tradicional. O cientista constatou que os genes e o DNA não controlam a nossa biologia, em vez disso, o DNA é controlado por sinais que se originam, na realidade, fora da própria célula.

O “centro pensante” de uma célula não é o núcleo, onde estão localizados os genes, mas a membrana que a recobre. Se o núcleo, por exemplo, foi retirado de dentro da célula, ela ainda assim continua viva, apenas é contido o processo de replicação.

A partir dessa premissa, Dr Lipton formulou um estudo para comprovar que não são os nossos genes que determinam o nosso comportamento e a nossa evolução, mas sim, o meio ambiente que nos rodeia e a forma como correspondemos a esse meio. “Se direcionarmos melhor o que estamos pensando, poderemos mudar o estado do nosso corpo”, pontuou em sua descoberta.

Texto extraído do livro Bioinformação – o elo perdido da medicina de Sergio Areias.

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